segunda-feira, 29 de outubro de 2012


Meu filho no Divã


                                    Era uma vez um castelo...e fim!

Numa manhã ensolarada recebo em meu consultório uma jovem mãe à procura de ajuda para seu filho. Ao entrar, ela olhou atentamente para a sala, para as simpáticas caixas coloridas de brinquedo, e perguntou-me de forma muito espontânea: “Como uma criança tão pequena de 6 anos, como meu filho, pode se beneficiar da Psicanálise? Ele vai sentar aqui e dizer como se sente?“
Para uma pergunta tão original, que fazia todo sentido e com certeza deve ser o questionamento de muitas mães como ela, respondi sorrindo: “Mãe, para a criança pequena, o brincar é o dizer, o brinquedo é a forma pela qual ela consegue se expressar”
Muitos questionamentos foram levantados pelos psicanalistas tradicionais (lacanianos) sobre a aplicabilidade da psicanálise às crianças, uma vez que esta é um saber e uma experiência clínica baseada na fala, onde o adulto expressaria seus sentimentos inconscientes. Então, como funcionaria para os pequenos? Existiria uma verdadeira análise de crianças?
Realmente as crianças não falam como os adultos, mas têm no jogo e no brincar a sua forma preferencial de interpretação do mundo e das pessoas.
E a criança sempre brinca, não importa se o consultório é desprovido de brinquedos, pois aos olhos dela tudo é brinquedo: objetos decorativos, folhas de papel ou almofadas, e se permitida a brincadeira se dá naturalmente tal como a fala de um adulto angustiado. E a partir desta constatação é que nasce, na década de 1920, a psicanálise infantil representada e sistematizada por Anna Freud e Melanie Klein.
Sendo assim, a psicanálise hoje se dá através do método lúdico e não é mais questionada quanto à sua funcionalidade pois está claro que a criança pode configurar quadros neuróticos  assim como os adultos, e de que a criança se expressa através da transferência como forma de comunicação, ou seja, transfere seus sentimentos, medos, raiva, através do simbolismo do brincar, do desenhar, das estórias e do falar, representando assim sua realidade.
Enfim, o brincar pode ser considerado uma linguagem que liberta o que está obscuro na criança e nos permite compreender os seus sintomas, é o caminho para sua cura emocional.

quinta-feira, 5 de julho de 2012


O que sabemos sobre as crianças e seus paninhos?


Aquele paninho ou bichinho que a maioria das crianças adotam por si próprias principalmente no momento de dormir e que são na maior parte de seu tempo “companhias” inseparáveis, tem grande efeito terapêutico para o bebê, especialmente até seu primeiro ano de vida, e é nomeado na Psicologia como objeto transicional. Há muitos anos, grandes teóricos da Psicanálise Infantil como Donald Winnicott, estudaram crianças e seus objetos e puderam constatar que este muitas vezes é o grande responsável por auxiliar o desenvolvimento das primeiras manifestações de comportamento afetivo da criança. Ele reconforta a criança nos momentos de solidão e insegurança, proporcionando consolo ou atuam como sedativo. O cheiro e textura são elementos essenciais, e que ninguém se atreva a lavá-los ou deixar em casa quando se sai, pois para o eu imaturo da criança esta condição de chupar ou abraçar o objeto é uma forma de auto expressão e de sentido de realidade, que dá a oportunidade de relacionamento humano, e pode muitas vezes ser um substituto emocionalmente saudável da figura materna, quando esta mãe e bebê precisam estar separados momentaneamente. (WINNICOTT, 1999).

E quando a criança está maior, e leva para a escola o objeto, é como se estivesse levando um  “pedaço” de seu relacionamento com a mãe que data do tempo de sua dependência infantil, do tempo de bebê. Porém quando as ansiedades a respeito de ir para a escola se resolvem, a criança estará então apta a renunciar à companhia desse objeto e à necessidade de levá-lo sempre consigo, trocando-o agora por um carrinho, uma boneca, pelas atividades lúdicas da escola e a medida que vão adquirindo confiança, renunciam usualmente a estas coisas. Em todo caso, as crianças costumam sempre chupar o polegar e roer as unhas, se estiverem enfrentando dificuldades. (WINNICOTT, 1999).

Ainda segundo o autor, recomenda-se respeitar o objeto e deixá-lo desintegrar-se por si só, por ser uma herança de afeto da criança pela família e quando a necessidade deste objeto não passar, os pais devem contar com o apoio da escola para aos poucos estimular a troca do objeto por atividades ricas em cultura, apropriadas a sua idade escolar. 

Fonte: Winnicott, Donald W. (1999). Conversando com os Pais. 2ª ed – São Paulo, Martins Fontes


domingo, 17 de junho de 2012


Geração tecnológica - cuidados e orientações


Quando se fala em Internet, muitas notícias bombardeiam o imaginário dos pais com questões como pedofilia, riscos de furto de informações, violência e até dependência.

No entanto, se bem utilizada, a Internet pode ser saudável para as crianças e jovens auxiliando-as a obterem maior agilidade mental, coordenação motora, incrementa o aprendizado geral, estimula o relacionamento afetivo com os demais, pode auxiliar a diminuir a timidez e na adolescência pode facilitar as escolhas profissionais bem como ampliar a rede de oportunidades de trabalho e troca de experiências.

Dicas aos pais para minimizar os riscos com a utilização do computador:

- Estabeleçam horários para utilização da Internet

- Bloqueiem o acesso da criança ou adolescente aos sites e links de uso adulto ou fora da classificação etária

- Participem navegando com o filho nas atividades e redes sociais

- Oriente-os sobre os riscos de uso em lan houses por ser um ambiente acessível à violência e pornografia

- Para crianças, o perfil em redes sociais não é recomendado, pois não há benefícios educativos relevantes quando comparado à sua exposição psicológica desnecessária; além disto, a criança geralmente dispõe de pouca maturidade para absorver o contato com conteúdos adultos compartilhados, ficando também expostos ao cyberbulling (nova modalidade de violência via Internet) e também podem contribuir para desviar o foco nos estudos.

- Estimule seus filhos a encontrarem entretenimento e diversão no brincar criativo, no contato com outras crianças e mostrem uma realidade real que com certeza é tão ou mais interessante e saudável que a virtual.

Portanto, a busca de sensações e a necessidade de explorar o mundo do jovem e da criança pode levá-los a terem comportamentos de risco sendo necessário, por parte dos pais, constante monitoramento, acompanhamento e incentivo ao uso saudável e instrutivo que a Internet oferece.

Filmes relacionados ao assunto:











quinta-feira, 8 de março de 2012




Multitarefas eletrônicas são saudáveis?



Um estudo feito com adolescentes nos laboratórios de informática de escolas norte-americanas (Jones, 2003), observou jovens realizando várias tarefas ao mesmo tempo: dividiam a tela do computador para fazer seu trabalho escolar e para jogar algum jogo enquanto  escutavam música em seu MP3 ou teclavam em sites de relacionamento com os amigos. A pesquisa revelou que embora a multitarefa seja eficaz para gerenciar sobrecarga de informação temporariamente, é ineficaz para processar informações de forma significativa, onde muitas coisas importantes se perdem nesta mistura. A multitarefa habitual também estimula o aumento dos níveis de ansiedade nos jovens, além de representarem um comportamento de risco quando toma a forma de enviar mensagem de texto ao dirigir. Por estas razões profissionais da área da saúde mental já desenvolvem intervenções terapêuticas para auxiliar adolescentes e adultos a interromperem o hábito da multitarefa.
Fonte: Boyd, D., e Bee, H. (2011). A criança em Desenvolvimento. 12. ed. – Porto Alegre, Artmed





FILME MEGAMENTE

Sinopse: tudo que o vilão Megamente mais queria era eliminar seu adversário Metro Man e assim dominar a cidade de Metro City. Só que para isso era necessário um plano ainda mais elaborado do que todos já testados anteriormente. Um dia, com a ajuda de Criado e após sequestrar a repórter Rosane Rocha, o malvado consegue o inimaginável, para ele e para todos: dar um sumiço no herói. A única coisa que ele não contava era que sua vida se tornaria tão chata a ponto de ele inventar um herói para combater.



 O filme Megamente (Megamind) traz uma reflexão sobre a construção da identidade na infância – e os reflexos na fase adulta 

No filme, os principais personagens são duas crianças que não vivem de acordo com sua verdadeira essência e sentimentos e quando percebem isto já adultos atravessam uma profunda crise de identidade.

De um lado está o bonzinho e mimado Metro Man, que provém de um lar onde os pais projetam  tudo aquilo que eles gostariam que esta criança fosse ; ele então transforma-se em um super herói e tem como trajetória fazer sempre o bem e salvar a cidade de Metro City, precisando da superproteção das demais pessoas a sua volta para sobreviver emocionalmente.

De outro lado está Megamente, um menino que logo cedo foi privado do convívio da família, e abandonado revolta-se contra si e as pessoas, e portanto para ser aprovado pelo meio, forçosamente opta por viver como vilão, já que sua auto-estima estava profundamente ferida e ele não acreditava que poderia ter algo de bom  em si mesmo para que fosse admirado, então tenta chamar atenção tentando por em prática planos maldosos de forma desajeitada.

A então sensível e empática jornalista Rosane Rocha (Roxie), percebendo a carência de Megamente, auxilia o então vilão a se conhecer e encontrar dentro de si uma verdadeira identidade.

Megamind fala  portanto da grande batalha interna entre o bem e o mal que há dentro de nós de forma verdadeira e divertida, mexe com nossas emoções e com a idéia de como nos tornamos quem somos. Este filme vai conquista-lo também , vale a pena assistir!
Confira o trailer:

Megamente - Trailer Legendado

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A afetividade da família como prevenção da violência





Nosso cenário social hoje valoriza grandemente a competitividade, a velocidade da informação e a voracidade com que as pessoas tentam obter seus ganhos materiais e pessoais. Vivemos numa sociedade onde tudo acontece rapidamente com o avanço da tecnologia e, apesar da evolução da informação, por outro lado nos deparamos com uma geração que se relaciona através da intolerância, onde impera muitas vezes o individualismo.
Cabe, portanto, às famílias inicialmente e às entidades educacionais e sociais posteriormente agirem de forma preventiva, com simples medidas que começam dentro dos próprios lares. Se não for a disciplina, o afeto e as ações de incentivo ao altruísmo em oposição a atos de violência familiar, certamente as crianças desta nova geração terão dificuldades em sobreviver de forma emocionalmente saudável nas suas interações sociais.
De acordo com as pesquisas recentes, observa-se que crianças vindas de lares  afetuosos demonstraram
       Maior QI
       Melhor desempenho escolar
       Maior autoestima e autoconfiança
       São mais empáticas
       São mais altruístas
       Têm menor probabilidade de comportamento delinquente ou agressivo
       Respondem melhor à orientação dos pais tornando-se mais disciplinados
Os estudiosos do comportamento humano em pesquisa recente da PUC de São Paulo apontam para outras medidas educacionais, ao contrário das punições físicas e verbais para educar e colocar limites para uma criança; acredita-se que aquelas estimulam a capacidade de empatia e tolerância desta criança para com o seu próximo e podemos citar como medidas eficientes as usadas na sequência do mau comportamento através da orientação, com o mais baixo nível de emoção e o nível mais leve de punição possível:  um diálogo que compreende ou o castigo que corrige: pôr para pensar, mostrando o motivo do castigo, um “gelo” de pai e mãe, mostrando firmemente que a atitude não foi legal. Nunca se esquecendo de adequar o castigo a cada idade: bebês precisam ser contidos num momento de fúria e crianças pequenas costumam sentir muito medo de ficarem sozinhas num quarto escuro; ou seja, deve-se ter bom senso e amor, até mesmo no momento de corrigir a criança.
As pesquisas demonstram ainda os efeitos negativos da punição física e verbal a curto e longo prazo para o desenvolvimento infantil, a seguir:
       Interrompe apenas momentaneamente o mau comportamento
       Criança desenvolve conceito negativo de si
       Desenvolve baixa autoestima
       Poderá remoer mágoas e alimentar sentimento de vingança
       Poderá tentar revidar a agressão
       A criança poderá reproduzir o comportamento adulto de resolver problemas e conseguir que as pessoas façam o que ele quer através da força física
       Mau exemplo dos pais: este arruína seu próprio valor positivo ao juntar sua presença com o evento doloroso da punição física
       Criança tende a se afastar do agressor
       Se a criança bater ou agredir colegas (bullyng), o adulto não terá moral de dizer que é errado, referências confusas
       Mensagem emocional subjacente forte: raiva, rejeição, irritação, aversão pela criança
Podemos concluir que é possível preparar os filhos para criarem um cenário menos violento e mais saudável através de atitudes dos pais, ensinando e valorizando o comportamento afetivo na criança; esta terá grandes chances de apresentar um comportamento mais equilibrado perante a família e influenciar positivamente o meio social.

Referências
Boyd, D., e Bee, H. (2011). A criança em Desenvolvimento. 12. ed. – Porto Alegre, Artmed
Cukier, Rosa (1998). Sobrevivência Emocional. 4.ed. – São Paulo, Ágora