Meu filho no Divã
Era uma vez um castelo...e fim!
Numa manhã ensolarada recebo em meu consultório uma jovem mãe
à procura de ajuda para seu filho. Ao entrar, ela olhou atentamente para a
sala, para as simpáticas caixas coloridas de brinquedo, e perguntou-me de forma
muito espontânea: “Como uma criança tão pequena de 6 anos, como meu filho, pode
se beneficiar da Psicanálise? Ele vai sentar aqui e dizer como se sente?“
Para uma pergunta tão original, que fazia todo sentido e com
certeza deve ser o questionamento de muitas mães como ela, respondi sorrindo: “Mãe,
para a criança pequena, o brincar é o dizer, o brinquedo é a forma pela qual
ela consegue se expressar”
Muitos questionamentos foram levantados pelos psicanalistas tradicionais
(lacanianos) sobre a aplicabilidade da psicanálise às crianças, uma vez que esta
é um saber e uma experiência clínica baseada na fala, onde o adulto expressaria
seus sentimentos inconscientes. Então, como funcionaria para os pequenos? Existiria
uma verdadeira análise de crianças?
Realmente as crianças não falam como os adultos, mas têm no jogo e no brincar a sua forma preferencial de interpretação do mundo e das
pessoas.
E a criança sempre brinca, não importa se o consultório é
desprovido de brinquedos, pois aos olhos dela tudo é brinquedo: objetos
decorativos, folhas de papel ou almofadas, e se permitida a brincadeira se dá
naturalmente tal como a fala de um adulto angustiado. E a partir desta
constatação é que nasce, na década de 1920, a psicanálise infantil representada e
sistematizada por Anna Freud e Melanie Klein.
Sendo assim, a psicanálise hoje se dá através do método
lúdico e não é mais questionada quanto à sua funcionalidade pois está claro que
a criança pode configurar quadros neuróticos assim como os adultos, e de que a criança se expressa
através da transferência como forma
de comunicação, ou seja, transfere seus sentimentos, medos, raiva, através do
simbolismo do brincar, do desenhar, das estórias e do falar, representando
assim sua realidade.
Enfim, o brincar pode ser considerado uma linguagem que
liberta o que está obscuro na criança e nos permite compreender os seus sintomas,
é o caminho para sua cura emocional.