quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Reflexão



           A expressão da figura remete-nos a uma sensação de ”estranheza de si”, de “não reconhecimento de si próprio”, de certa “insegurança” pelo desconhecido e “esquecimento do sofrimento passado”...
Esta figuração não foi escolhida ao acaso por mim; todos nós muitas vezes passamos por momentos de insegurança e incertezas de quem somos, sobre o que nos questionamos, como para onde vamos e se estamos no caminho certo em nossas atitudes... E gostaria de ir mais além na reflexão sobre esse tema -  existem crianças que em seu desenvolvimento emocional, que inicia-se no estágio fetal, através dos cuidados parentais,  estruturam sua personalidade baseadas não em seus próprios desejos, sentimentos e vontades, mas sim na vontade, desejos e projeções de seus pais ou cuidadores; quando na infância existe esta “desconexão emocional” da criança com seus cuidadores, é possível que esta desenvolva um funcionamento psíquico  denominado  falso self ” ou “falso eu”.
Segundo MILLER (1997), o indivíduo falso eu passa a adotar inconscientemente um padrão de comportamento imposto a ele e não o que se encontra verdadeiramente em sua essência.
Se a criança é vista pelos cuidadores como “propriedade”, com a qual se tenta atingir algum objetivo, exercendo-se um poder sobre ela, esta pode ter seu  crescimento vital violentamente interrompido. São crianças e adolescentes que chegam muitas vezes à vida adulta tendo passado por diversas privações de seus sentimentos, que são estimuladas a não sentirem medo, a não chorar quando estão sofrendo, a não demonstrar o que realmente estão sentindo para não desaprovarem seus pais; é muito comum a criança, em suas fantasias, demonstrar muito medo de perder o amor dos pais de maneira que, ainda muito pequenos, procuram corresponder a estas expectativas impostas. (MILLER, 1997)
Este desprezo desferido aos sentimentos da criança, seja com atitudes repressoras, ou sob a forma de agressões ou humilhações, faz com que esta  aprenda a perder a sensibilidade muito cedo; assim, muito frequentemente podem apresentar em qualquer  etapa da vida sentimentos  de inadequação, baixa autoestima, tendência a se adaptar, busca de aprovação do meio para sentirem-se seguros, falta de espontaneidade, suscetibilidade a melindres, culpa e raiva, estados depressivos, dentre outras dificuldades emocionais e a reproduzir muito frequentemente os comportamentos que aprendeu na relação com seus filhos (MILLER, 1997).
Em seu livro O Drama da Criança Bem Dotada, Alice Miller (1997), afirma que quando os pais desenvolvem uma sensibilidade, um vínculo de empatia e respeito para com as necessidades infantis, não desprezando os sentimentos, emoções e comportamentos, até mesmo em suas mais “tolas” expressões ou carências, podem contribuir na prevenção deste cenário e também para a formação de um indivíduo saudável psiquicamente, que na vida adulta consiga transmitir às demais gerações sentimentos de segurança, respeito e acolhimento vivenciados.

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